Por Vinícius Puhl
Uma perda inestimável para a humanidade. Uma luz em meio a escuridão do obscurantismo, da intolerância e da desumanidade. Um farol contra as injustiças, as guerras e as agruras da existência em sociedade. Que viva na memória de sua imensa generosidade, Papa Francisco!
A humanidade perdeu um de seus mais vigorosos defensores: o Papa Francisco, voz global pelos pobres, pela justiça climática e contra os extremismos que ameaçam a paz mundial. Sua morte enluta não apenas 1,3 bilhão de católicos, mas todos que viram nele um farol de esperança em tempos de obscurantismo crescente.
Laudato Si’, um Legado indispensável para a Humanidade
Entre seus maiores legados está a revolucionária encíclica Laudato Si’ (2015), documento que transformou o debate ambiental em imperativo moral. Ao declarar que “o grito da Terra é o grito dos pobres”, Francisco articulou como ninguém a crise ecológica com a justiça social – desafio urgente num planeta onde guerras, desigualdade e colapso climático se entrelaçam.
“Esta irmã [Terra] clama contra o mal que lhe provocamos”, alertou na encíclica, antecipando muitos movimentos globais. Seu apelo por uma “conversão ecológica” ecoou além das igrejas, influenciando cúpulas da ONU e lideranças mundiais.
O Antídoto Contra os Novos Fascismos
Em paralelo a essa batalha, Francisco emergiu como dos poucos líderes globais a confrontar diretamente o neofascismo e neonazismo do século XXI. Denunciou “os nacionalismos fechados e violentos” e alertou que “o ódio não é solução” – mensagem crucial quando discursos autoritários ganham parlamentos e ruas.
O Vácuo e os Desafios
Sua ausência ocorre no momento mais crítico:
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Na Igreja: enquanto setores tradicionalistas pressionam por retrocessos, jovens clamam por continuidade em temas como acolhimento a migrantes (suas “mochilas sempre prontas” tornaram-se símbolo)
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No Mundo: com guerras na Europa e Oriente Médio, catástrofes climáticas e ascensão da extrema-direita, desaparece um mediador único
O Testamento Vivo
Francisco não deixa apenas documentos, mas um método: “Sonhem! Arrisquem!”. Se Laudato Si’ permanece como bússola para salvar “nossa casa comum”, seu exemplo de diálogo com ateus, muçulmanos e indígenas mostra que outro mundo é possível – justamente quando o extremismo quer nos convencer do contrário.
Neste século de incertezas, seu maior legado talvez seja provar que fé e coragem política podem, sim, mudar o curso da História. Cabe agora aos vivos honrar essa herança.