Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado desafios estratégicos que expõem uma fragilidade estrutural no que diz respeito à sua soberania tecnológica. Um exemplo disso é a dependência quase total do sistema de GPS controlado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, o que coloca em xeque a capacidade do país de operar setores críticos como exploração de petróleo, mineração e agricultura de precisão.
Essa dependência é um reflexo de um projeto de nação que, por muito tempo, foi construído com base na passividade diante de interesses externos. O recente contrato da Marinha Brasileira com a Starlink, empresa de satélites do bilionário Elon Musk, ilustra a complexidade dessa relação. De um lado, reconhecemos o papel fundamental de empreendedores como Musk na evolução tecnológica, com inovações que fascinam, como os foguetes reutilizáveis. Por outro, não podemos ignorar as motivações políticas e econômicas por trás dessas transações, que frequentemente reforçam a posição de subordinação tecnológica de países como o Brasil.
O Brasil precisa urgentemente recuperar uma visão estratégica de país. Isso significa investir em sistemas próprios de satélites e GPS, que garantam independência para setores vitais da economia. Hoje, cerca de 85% da exploração de petróleo e 80% da mineração dependem de dados fornecidos por satélites estrangeiros. Na agricultura de precisão, essencial para sustentar a posição do Brasil como um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, a interrupção desses serviços seria catastrófica.
Portanto, enquanto o pragmatismo nos leva a celebrar parcerias que garantam soluções de curto prazo, é fundamental traçar um plano de médio e longo prazo para o desenvolvimento de uma infraestrutura tecnológica soberana. Isso passa por ampliar investimentos em pesquisa e desenvolvimento, fomentar a indústria nacional de tecnologia e estabelecer parcerias estratégicas que priorizem transferência de conhecimento e autonomia.
Tecnologia como Alicerce para Resiliência e Sustentabilidade
Essa estratégia não se limita à segurança nacional ou à competitividade econômica. Ela também deve integrar uma visão de sustentabilidade. O avanço tecnológico precisa estar atrelado a iniciativas como o Programa Nova Indústria Brasil, que projeta um futuro resiliente e sustentável. A construção de um Brasil mais independente passa por reconhecer as vulnerabilidades atuais e transformá-las em oportunidades. Só assim deixaremos de ser meros consumidores de soluções tecnológicas externas e nos tornaremos protagonistas de nossa própria trajetória de desenvolvimento.